O que são Fake News

Fake News: conveniente para alguns, mas um pesadelo para a democracia
Em março de 1994, a história de abusos sexuais cometidos em alunos da Escola Base por funcionários e proprietários chocou o Brasil, sendo julgada por uma população indignada e, principalmente, pela imprensa da época. Jornais, revistas e emissoras de rádio e TV apuraram o caso considerando apenas o lado da polícia, sem direito a manifestação dos acusados, que no final foram considerados inocentes, mas tiveram danos irreparáveis em suas vidas pessoais e profissionais depois do ocorrido.
Relembrar um caso que ocorreu há mais de vinte anos pode parecer estranho, mas hoje possui o papel de explicar e exemplificar as fake news e porquê elas não são um fenômeno recente. O caso da Escola Base tornou-se referência em discussões sobre a ética no jornalismo, além de ser um tópico discutido em cursos de Direito, nas cadeiras de Constitucional, Penal e Processo Penal.
Fake x False
Assim como em 1994, as fake news de 2018, discutidas em rodas de bar e palestras em universidades, possuem as mesmas características: trabalham com meias verdades (ou meias mentiras, como preferir).
E identificar uma notícia falsa pode parecer fácil, basta saber os fatos, certo? Não necessariamente. Um deslize durante a tradução para o português de “fake” para “falso” pode ter contribuído para a nossa suposição de que basta saber se algo é verdadeiro ou falso. Contudo, o problema é mais profundo.
Enquanto as “false news” podem ser desmascaradas facilmente, as “fake news” são forjadas, podendo omitir fatos que seriam necessários para entender a situação em seu contexto real, utilizando, como já dissemos, meias verdades.
O que mudou?
Assim como a ascensão da internet permitiu a democratização da informação, também aumentou a velocidade e o poder de disseminação das notícias falsas. A era da Cibercultura liberou os polos de emissão, descentralizando aquela comunicação que só chegava à audiência a partir da imprensa tradicional, mas também permitiu a pulverização desses boatos.
Um exemplo disso é a pesquisa realizada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP (Universidade de São Paulo). Em abril de 2018, o estudo revelou que grupos de família são o principal vetor de notícias falsas no WhatsApp.
O aplicativo é visto como uma das redes mais propícias para a difusão dessas notícias forjadas. Segundo a pesquisa, elas são disseminadas em texto, e não em vídeos, fotos ou áudios, ou seja, ao invés de causar dúvidas, a falta de evidências nos fazer acreditar mais facilmente.
Isso está muito relacionado com o período polarizado que vivemos hoje no Brasil e no mundo. Na chamada era da pós-verdade, acreditamos naquilo que vai de encontro com o que apoiamos e, portanto, é mais conveniente para reforçar nossas opiniões já existentes e convictas, “provando” que estamos certo, e qualquer um que pense o contrário está errado.